PSICODINÂMICA ENTRE AGRESSOR E VÍTIMA É TEMA DA PALESTRA DE PSICÓLOGA – SINPROFAZ

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29 de abril de 2021

PSICODINÂMICA ENTRE AGRESSOR E VÍTIMA É TEMA DA PALESTRA DE PSICÓLOGA


Coordenadora e professora de cursos de pós-graduação na Santa Casa de São Paulo e no Hospital Sírio-Libanês, Flávia Fusco é mestra em Psiquiatria e Psicologia Médica. Convidada pelo SINPROFAZ para integrar os debates do projeto PFN e Gênero: Sensibilização, Conscientização e Diálogos, a psicóloga palestrou sobre o tema Violência contra as Mulheres: a banalização do mal. Entre as informações que compartilhou com a Carreira, esteve a ideia, comum e equivocada, de que o homem que agride possui um transtorno mental: “Nos agressores, verificamos características como impulsividade e baixa tolerância a frustrações. Qualquer pessoa, no entanto, pode possuir essas características, o que não faz dela uma abusadora necessariamente”.

Para a psicóloga, tratar a violência como patologia é considerá-la um problema individual e particular – no qual não se deve “meter a colher” – e dissociado de uma estrutura, isto é, dos aspectos históricos, culturais e sociais intrínsecos a ela. Levando em conta que o tratamento de patologias, como um transtorno depressivo ou de ansiedade, combina medicamentos e psicoterapia, “se a violência fosse pensada sob o viés psicopatológico, bastaria um remédio para fazê-la parar”, concluiu Flávia Fusco. Sem uma intervenção no âmbito jurídico ou da saúde, porém, o ciclo da violência contra a mulher tende a se agravar, como alertou a psicóloga: “Não me lembro de um caso sequer em que a violência tenha cessado de livre e espontânea vontade”.

A violência psicológica pode ser definida como toda ação ou omissão, verbal ou gestual, que causa ou visa causar dano à autoestima, à identidade ou ao desenvolvimento da pessoa agredida. De acordo com Flávia Fusco, essa violência inclui insultos, humilhação, desvalorização, chantagem, manipulação, exploração, ameaça, imposição de isolamento dos amigos e familiares e privação arbitrária da liberdade, como o impedimento de trabalhar, estudar e cuidar da própria aparência. “A violência psicológica tende a se arrastar por anos, porque muitas vezes a própria mulher tem dificuldade de entender que está sendo vítima. Por não deixar marcas físicas, essa violência pode ser a mais sutil e perversa, pois a própria sociedade pode acabar não a reconhecendo”, explicou a expositora.

À Carreira, a psicóloga destacou o equívoco da ideia de que, para sair do ciclo de agressões, basta à mulher pedir ajuda. Segundo Flávia Fusco, “a violência corrói o estado emocional da vítima, que vai perdendo a capacidade de reação”. A mulher agredida, conforme ensinou a palestrante, tende a normalizar a situação, considerando-a um “padrão razoável”. Apesar da tentativa de normalização, as vítimas carregam sentimentos de vergonha e culpa que refletem em reações ambivalentes, como o desejo de separação e a posterior desistência, a denúncia e o posterior arrependimento. “A ambivalência não quer dizer que a mulher ‘não sabe o que quer’ ou que mente, mas acaba afastando sua rede de proteção, que não compreende a ambivalência como consequência da violência.”

Para encerrar a exposição, Flávia Fusco abordou a questão do perfil do abusador e da urgência em desmistificá-lo. Com exemplos de experiências vividas no atendimento profissional a agressores e vítimas, a psicóloga demonstrou que os abusadores não são necessariamente homens agressivos, que se parecem com monstros ou que dão medo. De acordo com a palestrante, essa concepção motiva associações incorretas que colocam em xeque a palavra da vítima. “Mas ele é tão trabalhador, ele é tão bom pai, ele é tão romântico. Será mesmo que ele praticou essa violência?”, exemplificou Flávia Fusco. Para a psicóloga, a tarefa que cabe a todos e a todas é a de ter mais atenção aos próprios julgamentos e oferecer às vítimas que pedem ajuda uma escuta mais aberta e qualificada.

Confira em bit.ly/FlaviaFusco a íntegra da palestra!



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